As considerações relativas à saúde, envolvidas na reprodução em cativeiro, na reintrodução e nos programas de translocação, constituem uma fonte de grande preocupação para os biólogos conservacionistas. Isto porque os animais criados em cativeiro poderão potencialmente transmitir doenças infecciosas a populações selvagens (e.g., tuberculose em Órix-da-Arábia, Oryx leucoryx, reintroduzidos) e vice-versa (e.g., Furões-de-patas-negras capturados da natureza transmitiram esgana canina a indivíduos em cativeiro livres de infecção). Considera-se frequentemente que a maioria dos programas de conservação apresenta falhas a nível de:
(1) informação relativa à distribuição e risco de doenças nas populações de cativeiro;
(2) informação relativa à incidência,distribuição e risco de doenças nas populações selvagens;
(3) sistemas de quarentena para prevenção da transmissão de doenças;
(4) um sistema para detecção e seguimento adequado de agentes patogénicos.
A escassa informação sobre as doenças que afectam o Lince Ibérico tornou imperativa a aplicação de acções para melhorar o conhecimento a este nível. O Programa de Reprodução e Conservação do Lince Ibérico estabeleceu um Grupo Técnico Veterinário (GAAS), dedicado a diversos aspectos da clínica e da investigação, assim como ao desenvolvimento de protocolos. De modo a compreender melhor as várias patologias que poderão afectar esta espécie, as principais linhas de acção do Programa envolvem: o estabelecimento de protocolos de prevenção de doença nas populações cativas;a instrução e integração de pessoal veterinário capaz no trabalho com as populações in situ e ex situ; e a realização de investigação em ciência veterinária geral.
Projectos de investigação têm ajudado a determinar a incidência e a prevalência de patogéneos infecciosos nas populações cativas e selvagens de Lince Ibérico, a determinação de valores sanguíneos normais e patológicos e o estabelecimento de parâmetros que apontam para uma potencial disfunção renal. Os resultados da investigação, a criação de protocolos e os esforços de uniformização, associados à disseminação e à partilha de conhecimento e experiência entre os veterinários envolvidos no Programa, têm contribuido para diagnósticos e tratamentos mais consistentes.